domingo, 12 de dezembro de 2010

Há de se aparecer e escrever para mostrar que se está viva.





Idéia de gaveta. Quem quer?




O que será que passa dentro? Por que o mundo do outro é tão indefinível e estranho? Quem é que te define como razão de ser e existir e vai existir tão longe de você? Ou será que nada nunca realmente existiu?
Atravessar a rua. E andar. Andar mais. E mais. E mais. E mais. E mais. E andar até que andar não seja mais a tarefa, porque não se percebe mais o que faz, de tanto que se fez. Quando não sentir mais as pernas, pense. E pense. E pense. E pense. E quem sabe dá certo.
Eu quero tanto gritar que não adianta o meu. Tenho que pegar o grito dos outros. Todos os gritos de todos os mundos. Porque dentro de mim só tem vontade, mas não acho a voz.

domingo, 17 de outubro de 2010

Já.






Troca o talento que tem pela felicidade certa que busca. Cada um quer o que quer, sem parar para discutir se é o certo ou não - a competição é dura e os velozes conseguem primeiro. Se há certeza? Há certeza de que não há tempo!

Eu procuro começos sonoros.

Se alguém tentar escalar o mar tão alto e nadar por montanhas azuis, deixando para trás mãos que o seguram, noções de grandeza, pés no chão, planos de outros, barrigas por crescer e a população periférica da vida que levava (sem permitir aderências da nova vida que quer levar), quem estará do outro lado do impossível conquistado para dar-lhe o abraço congratulatório?

O grande presente é o agora.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Obs.

Eu queria agradecer por todos os emails. Tem sido divertidíssimo responder dúvidas inquietantes e trocar receitas de bolo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Correspondência.

Eu sei que comentar textos e opiniões publicamente é uma tremenda de uma responsabilidade e assusta os leitores mais acanhados.
Foi pensando nesse grupo, que perde o sono pensando no que quer falar mas não tem coragem, que explode dentro de si com respostas que gostaria de dar, que teme o assédio que vai sofrer mas que não gosta de postar como Anônimo, que eu criei o email do Cesto!

Agora, sempre que você quiser deixar elogios, sugestões, pensamentos, procurar por aconselhamento sentimental ou mandar correntes, pode enviar para jogatudodentro@gmail.com!

A cada resposta, um eu-lírico surpresa!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Primeira Primavera.




Ontem mesmo, minha irmã brilhante veio com a idéia brilhante de brilhantemente postar um texto meu chamado "Presente" no dia da brilhante data do primeiro aniversário de brilhantismo do Cesto. Como vocês podem perceber, eu não ainda não alcancei esse nível de genialidade e acabei postando o tal texto antes da presente data. Mas tem nada não, que se eu estou aqui pra escrever, eu escrevo mesmo. Que se faça um outro post.
Por ser aniversário, resolvi fazer uma festinha: selecionei vários projetos de textos que estavam dormindo no meu caderno para juntar na coleção de Idéias de Gaveta que eu tenho aqui. Talvez eu continue todos, talvez não. Por ora, quero mostrá-los a vocês.
E parabéns para nós, pessoal. O Cesto é muito importante para mim e - por incrível que pareça - um lugar muito feliz! =)






Quem não tem história, inventa uma.
Eu estava agora tentando inventar uma. Então eu acabei falando de mim. Isso me deu uma vontade tão grande de sair de lá. De parar de escrever aquilo. Aí eu fugi para cá.









Há muito não escrevo e assim, de súbito, me deu vontade de voltar ao papel – esse meu companheiro, amigo e amante, que nunca mente ou engana e sempre me recebe com amor sereno, mesmo depois de longas ausências.
Penso como seria ser folha de papel em branco – sem pauta – e ter pena para me escrever em mim. Ou (como não haveria linhas pré-feitas) desenhos de ar lúdico-renascentista, se tivera o dom. (Do dom, aliás, conheço pouco. Sei, porém, que é belo a ponto de dar calafrios o saber de algo que nunca se aprendeu. Aprimora-se, como tudo que há. Mas a essência, a seiva, não muda. E cada música, pintura, quadro, escultura, poema e prosa terá sempre o mesmo sangue do artista.) Penso como seria ser folha de papel em branco – talvez o seja.
Há muito não escrevo e quis, então, destinar-lhe palavras.














Não é sofrimento, sabe. Não gosto dessa palavra. É só vazio. É só olhar para o nada, olhar para frente, para cima, e só ver um clarão disforme que não diz nada. Ainda assim, saber que está tudo lá. Isso não é frustrante?















Quando foi que começou a não conseguir mais traduzir? Talvez nunca tenha sentido tanto, visto tanto, pensado em tanto, e ainda assim não consegue.














Sinto saudades de falar só comigo. Agora é um bom momento?















Quero começar de novo, então. Um, dois, já.
E tudo é um dessa vez. Me diz, por que ir tão longe? Está tudo aqui.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mases.

Amanhã o Cesto faz 1 ano de existência - que coisa! Eu acho muito engraçado como um pedacinho bobo de algo intangível possa ter me deixado tão feliz. Graças ao Cesto, eu aprendi muita coisa, pude pensar em muita coisa e pude me orgulhar muito de algo só MEU. Isso é muito legal! =D
Pra manter minha maratona de posts (acho que foi um recorde) e o clima de contagem regressiva para o aniversário, deixo aqui um textinho encontrado no fundo da gaveta - mais uma rapa do tacho de mim. Já me abri tanto aqui, já me expus de tal forma, que não tenho mais medo de colocar coisas que escrevi inicialmente só pra mim. E não é como se vocês não me conhecessem, não é?
Boa sorte e muito agradecida por terem chegado até aqui comigo. É grande parte da minha alegria =)




Às vezes eu sinto falta de chorar. Me vem uma vontade de lágrima danada. Mas não é vontade de sofrer ou de ser triste. É só saudade de guardar tanta beleza, tanta verdade, tanto espanto, e vazar.
Eu li uma vez que o escritor tem que parar de acreditar nisso de inspiração. Que o certo é tomar vergonha na cara, sentar na cadeira e, beneditino, escrever. Posso fazer isso. Mas sai sem gosto.
É assim que tem sido há um tempo. Eu faço as coisas, eu vou aos lugares, converso, sorrio, sinto, abraço. No entanto, vem tudo tão sem gosto. E não é o insosso sentido naqueles dias epifaníacos, em que a gente parece estar descolado do resto da dimensão, andando aqui só como espectador. Esse tipo de falta de gosto, na verdade, é saborosamente colorido. A questão agora é essa ausência de fagulha para dançar dentro do peito.
Talvez esteja faltando música ou dança ou paciência ou carinho ou berço ou colo ou calma ou cafuné ou grito ou abraço ou beijo ou riso ou ímpeto ou entrega ou limite ou cumplicidade ou espaço ou espelho.
É isso que eu quero?
Eu amo. Mas que amor é esse encapsulado? Parece que depois de um tempo eu silenciei o carnaval de dentro de mim para tentar pensar mais reto. Não adiantou nada, que eu continuo pensando torto. A diferença é que agora meu torto é ainda mais chato (antes me fazia chorar ou rir, o que já era um avanço). A indiferença de agora me prega no chão. Mas escrever de novo faz com que volte a pulsar interesse e vontade.
Como romper a cápsula?
(Notei que muitos dos meus textos são Mases. “Porém”, “contudo”, “todavia”, “no entanto” e “entretanto” não têm a mesma graciosidade. “Mas” podia ser bailarina. Ou bailarino).

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Presente.


Foto de Isa Lu.


Eu escrevi esse texto para o concurso Eu Faço A Megazine, do Globo. Depois eu vi que tinha ultrapassado o limite de caracteres. Enviei para eles do mesmo jeito. Aí quis postar aqui porque, poxa.



Tirou a poeira do parapeito com mãos de quem acaricia peles.

Olhou a rua, olhou para cima, virou o corpo - cheiro forte de canela –, trocou a música, andou em frente, ficou descalça e avidamente enfiou os braços nas almofadas que descansavam tão santas sobre o sofá. Como que para contrariar tamanha placidez e beatitude, deitou-se da forma mais lasciva que pôde, provocando a mobília com sua carne de vida-por-vir.

Eu não sei deitar como ela deita.

Por isso não: ela não sabe fechar os olhos. De logo, tenta esperar a vontade de dormir vencer o corpo. Mas o corpo quer estar olhante. Então ela força as pálpebras a escurecerem o mundo, mas isso dói. Olhos ficam abertos, vendo o que não miram. Cheiro forte de canela.

No aniversário de sete anos, pediu para fazer um curso de astronauta. Ganhou um livro com fotos do espaço e um par de pantufas. Lembra-se de folhear as imagens de estrelas enquanto assistia ao irmão mais velho rodar pião. E um pião era um planeta, e muitos piões eram galáxias.

Aos nove, pediu um gravador. Ganhou um diário. Aos dez, ganhou patins. Aos onze, pediu cartas, cartas e cartas, de quem fosse, de onde estivesse – para que soubesse como é ganhar palavras – e recebeu. Aos doze, pediu o Mundo e ganhou o gato (lá no fundo, preferiu). Aos treze, sorvete de flocos. Aos quatorze quis cadernos, muitos.
E aos quinze não soube o que pedir e recebeu olhares.
(Não soube o que pedir para os pais, mas só de si, do vazio do quarto, pediu que nunca lhe faltassem saúde, comida, lápis, papel e amores. Ganhou seus próprios olhos arregalados ao notar o monte de tudo que a esperava. Um Tudo a ser tocado, sentido e guardado. Ganhou janelas mais abertas e céus sem nuvens, com esperança de chuva).

Além disso, ganhou binóculos.

Dez anos depois, ganhou flores. E o cheiro doce dos buquês parecia tentar amansar a mente aguda dos vinte e cinco. Sempre tivera cabeça de caleidoscópio. Era em voltas de cor e luz que enxergava o dia. E ia bem assim.

O gato começou a ronronar no meio da barriga da que pensa. Passando de leve a mão em seu pêlo, ela tenta avisá-lo:
- E eu ainda nem sei rodar pião.

Mas ele não liga. Não com esse cheiro forte de canela.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fio.

Corpo posicionado, tudo certo. Olhar o meu (por assim dizer) casco (por assim dizer) de fora, é estranho. Sou menor do que pensava. Meu cabelo parece mais escuro, também. Dou uma volta ao redor de mim só para poder olhar mais um pouco. Com um suspiro, pego a corda fina e frágil para amarrar firmemente meus pés e mãos. Passo uma faixa de pano pela minha cintura. Não sei como a carne reagirá durante o procedimento. Procurei uma cadeira grande e confortável. De madeira, certo, mas suporta bem minha coluna. Minhas pernas estão em ângulo de noventa graus com o chão. Pareço confortável. A única coisa que realmente incomoda (além do sinistro fato de me ver atada a uma cadeira) é não conseguir fechar meus olhos. Pensei que seria fácil abaixar minhas pálpebras, mas meu corpo - por reflexo, talvez – insistia em se manter atento, encarando aleatoriamente o nada. Meus olhos são castanhos. E maiores do que eu me lembrava. E estão mortos e em brasa.

Ainda respiro, claro que sim. A carne está viva e o resto também. Quer dizer, quase todo resto. Alguma coisa deu defeito. E é por isso que eu saí de mim, me endireitei em algum lugar, me amarrei e agora pego a faca. Começo o corte.

Enterro a lâmina em minha cabeça, logo acima de minha orelha esquerda. Forço até que a lâmina suma. Em seguida, firmo a cadeira e continuo o corte até chegar à minha outra orelha. Então levanto a faca para que o segmento de meu crânio se separe facilmente do resto. Assim consigo uma visão ampla e precisa do que se passa sem ter de rasgar meu rosto. Retiro a tampa e de imediato consigo ver todos eles, se mexendo e entrelaçando: incontáveis fios. Cor, tamanho, espessura, consistência, velocidade – parece até que a gravidade é diferente pra cada um. Ou que não há gravidade, e cada um segue regras físicas próprias. Ou talvez não sejam físicos.

Foi por esse novelo que me prendi e me cortei. Para poder encarar cada linha, saí de mim e tirei meu sangue. O que ainda me faz segurar a faca é dor. Quando o sofrimento é tão grande que faz com que se ejete o próprio não-corpo de si, parar de se abrir é parar de tentar. Dói mais sentir que não se pode voltar. Não sinto o gelado do metal em contato com a pele, a forma como puxa e empurra antes de me talhar a fronte ou o jeito com que perfura o que tenho dentro. Não sinto nada. Meu corpo já não é mais eu.

E cada fio na minha cabeça me puxa para um lugar diferente.



(Eu acabei não terminando esse aqui – um fio mais forte me fez desviar. Mas hoje é minha última chance de postar nesse mês de agosto. Então cá estou.)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nota.

Isso não é nem um pouco relevante, mas eu senti uma vontade louca de dizer como eu me divirto com os peixinhos do aquário que tem no fim do Cesto.
(Pra quem não tinha reparado, se você for láaa embaixo da página inicial do meu blog, encontrará um aquário virtual. É só clicar que você alimenta os peixes.)

E eles ainda seguem a setinha do mouse.
Ah, que divertido.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pa-pe-pi-po-pu.

Clara, venha jantar!
Clara, vá tomar banho!
Clara, vá estudar!
Clara, venha para a varanda!
Clara, vá comprar pão!
Clara, vá dar banho no cachorro!
Clara, levante e vá viver!
E eu deitada na cama lendo Rilke.

Exato.

Eu pensei em várias coisas para botar aqui. Depois eu pensei que nada interessava e desisti.
Mas a arte tem que interessar?
E chamar o que eu penso de arte – que prepotência!
Mas é arte a partir do momento em que ponho no papel, não?
Pensemos: se digo que sou escritora – ou mesmo finjo – tudo que escrevo fruto de minha vontade de fazer literatura é arte, não?









Respirou fundo para reconhecer a inconstância redemoíntica revolvendo-a em sensações de reluzente fugacidade. Como era de se esperar. E então sentiu, porque só sentindo poderia vir a pensar. E o pensamento veio, na velocidade de tudo aquilo que quer ser agora e não depois. Num instante viu dentro de si enormes esquemas filosóficos de transcendência sensacional! Pulou na pena para escrever.
E nesse gesto tudo passou a ter tão pouca importância.
Pensou mais. E nesse pensar de botar para fora pensou que não adianta tentar se passar para o papel. Papel não agüenta gente inteira. Se só podia ser parte, de que adiantava escrever aquilo tudo?
Perdeu a viagem. Em sua saída suspirante de cena, deixou registrado:
“É mais bonito dentro de mim.”

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O bloco da família vai atrás.

Esse é só mais um textinho para tranquilizar meus amados parentes. Não estou depressiva, arrasada ou acabada. Acontece que a escrita exige do autor toda a Vida. Não se escreve por metades de si. O que vem de mim vem inteiro, e esse inteiro diz respeito a dores, alegrias, gritos, trapos, jóias, céus e chãos, tanto os que já foram quanto os que ainda serão. Então sosseguem: ninguém é só riso ou só choro, ainda que na arte derrame o extremo de cada fração de si.

Eu tô legal. Muitos beijos na madrinha.


(Ouvindo: Além do que se vê - Los Hermanos.)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Então bebe.


Eu estou com sede. E acho que estou com sede de tudo.
Eu estou com sede de água. A pele de minha boca repuxa até a garganta e a secura vai até o fundo. Parece que a sede enxuga o que deveria estar molhado. E eu olho o copo dos outros sentindo o líquido que não é meu escorregar por dentro. E eu desejo tanto este copo d’água. Este aqui, que está bem na minha frente e eu não apanho, porque preciso – preciso porque mando em mim – sentir a sede. Deve ser tão bom a água escorrendo gelada, engolir a vida. Tenho o copo em mãos, mas não bebo. Sinto sede.
Eu estou com sede de entendimento e de compreensão. Eu quero ser capaz de dizer por que. E se entender, quero ser entendida. Tudo e todos são diferentes quando um faz, o outro assiste e nenhum sabe. Fez o quê? Fez por quê? Quer o quê? E compreender, quem compreende? Eu tenho sede de espelhos nos corações dos homens. No meu, muita. Que um estenda a rosa e o outro entenda a flor. E compreenda por que esta lhe foi estendida. Tenho sede de entender os outros. Parecem perto como meu copo, mas a água não me vem aos lábios. Quero beber-vos em grandes goles, e ser capaz de suportar e amar vosso gosto.
Eu tenho sede de querer. Ou de nomear o que quero. Como reconhecer o rosto com o qual quero topar na próxima esquina (ou mais longe, talvez) se não sei como chamá-lo? Eu tenho sede de querer muito, muito, e ter certeza disso. E desse querer fazer o que é físico. E para isso que é físico, olhar com orgulho e vontade de querer mais. Mas se não quero nem sei, o que fazer com o monte de tudo transformável que tenho em mãos, meu futuro massa de modelar? E vou parar de jogá-lo de uma mão à outra, sentindo o bolo disforme que é meu e pode ser qualquer coisa?
Eu sinto sede de palavras. De frases encadeadas, parágrafos, letras, papel, caneta, linhas, lápis, traços livres, cheiro de madeira de lápis, grafite no rosto... E de rasgar papel. E de usar o papel de novo. E de respirar e me sentir deitando em cima do que escrevo.
Eu tenho sede de fazer. Pensar, planejar e fazer de verdade. Sede de achar que dá. Que passo. Que sim.
Nossa, como tenho sede de ir.
Eu tenho sede de música. De me entregar como quem se entrega a um beijo à música que realmente faz som dentro. Música que alimenta e mata a sede me põe de joelhos no chão e olhos no céu.
Eu tenho sede de ver. Virar a cabeça para todos os lugares e deixar gravando.
Eu tenho sede de coragem e de parar de fingir que realmente me importo quando preferiria estar longe dali.
Eu tenho sede de explicação, mas isso eu já disse.
Eu tenho sede de amor. E de verdade. E de segurança. E de certeza. E de confiança. E de amizade. E de gratidão. E de sentir. E de estudar. E de aprender. E de lutar. E de contar. E de pegar. E de criar.
Eu tenho sede de rosas.
E tenho muita, muita sede de mim.



Para acabar com a sede, bebe-se.
Então eu choro, ouço uma música, olho para cima, olho para frente, pego o copo d’água e bebo.

Fôlego.

É esse embolorado de coisa aqui no peito, que só me faz querer correr, correr, correr, correr,
correr, correr, correr, correr, , correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr (correr de mim) , correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr (pra ver se eu esqueço o novelo cheio de nó em algum lugar e sigo) , correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr (até tudo ficar mecânico e eu não precisar pensar) , correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr (para pelo menos parecer que eu quero chegar a algum lugar) , correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr (correr dos outros) , correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr, correr.
Mas eu não corro. E olhar para os lados enquanto eu caminho me incomoda.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pode Ser Azul.



“Por que você não sobe no céu de para quedas e abre uma nuvem?”
Um menino de seis anos olhou para o cordão com um pingente em forma de chave que ela carregava no pescoço e disse.
Porque era a chave do céu. E, se dá para abrir o céu, a gente vai até lá e abre.
Porque esses momentos são necessários. Esses em que a gente, que se acha mais alto, percebe como é mais baixo.
E porque aos seis anos tudo é poesia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Muito, muito, muito.

Era uma vez um menino muito, muito, muito alto. Ele era tão alto que as nuvens ficavam em volta da cabeça dele e quando ele falava fazia vento. Vento não, brisa. Porque era muita palavra doce e leve.

O menino tinha muitas, muitas, muitas dúvidas (acontece que era um menino muito, muito, muito inteligente, e meninos assim têm gosto em perguntar e saber mais). Tendo muitas dúvidas, procurava muitas, muitas, muitas respostas. Encontrava não tantas. Mas a procura já valia boa parte da energia gasta em questionar. Questionar alimenta, sabe? Dá trabalho, mas fortalece. E procurar a resposta dá vigor.

Um dia ele botou o pé para fora de casa e viu um céu muito, muito, muito cor de rosa. Olhou para os dois lados da rua muito, muito, muito vazia e entendeu pouco. O céu sempre fora tão, tão, tão azul, por que agora tão cor de rosa assim? Se tivesse alguém junto dele, olhando como ele para onde ele olhava, poderia perguntar se via rosa também. Mas não havia ninguém acordado ainda. O menino acordava muito, muito, muito cedo todo dia, para poder correr até a praia e ver o sol nascer. Mas nesse dia não só o sol não tinha nascido como o mundo tinha acordado cor de rosa. E o menino olhou para as nuvens em volta de sua cabeça e não via nenhuma que não fosse colossalmente, fabulosamente, normalmente branca. Ora, as nuvens não haviam mudado. Nem nada lá embaixo. A grama era verde, o asfalto era preto (ou cinza), os pombos eram cor de pombo, a areia (lá no fundo) era bege ou branca, os prédios tinham as cores que tinham um dia atrás. Só o céu que tinha resolvido trocar de roupa. Mas não se incomodou. Gostava de rosa. Não parou de se perguntar o por quê, mas não pensou nem por um segundo que era errado. Que seja rosa, azul, amarelo ou verde: quero o céu como o céu se quiser.

E, sim, o menino tinha muito, muito, muito amor. Um amor muito, muito, muito grande. Tão grande que era difícil conseguir camisas para ele; não por sua altura, mas por causa de seu coração, tão largo e tão cheio. Por isso, o susto do céu rosa durou um pouco menos. O amor era tão verdadeiro, tão puro, tão intenso, que não seria exatamente uma surpresa ele um dia descobrir que uma parte do amor havia fugido de dentro dele e ido parar do lado de fora. Era de fato muito, muito, muito grande. Pensava ele que provavelmente grande demais para caber dentro de alguém, mesmo em um alguém tão alto como aquele menino. Logo, se o céu estava rosa para ele (até onde se sabia), era porque estava colorido com amor, nada mais justo e claro.

Ele é muito, muito, muito, bonito. E aceita o céu da cor que for, nunca parando de amar com força e gratidão tudo no mundo que reflete o amor de bem. Andou até a praia, sentou numa pedra muito, muito, muito grande e muito, muito, muito boa, deu um suspiro muito, muito, muito profundo e viu o sol nascer.

O sol nasceu violeta.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

E nós subimos em árvores.







(se possível, leia ouvindo Open Your Eyes, do Snow Patrol.)


O mundo corre para todos os lados. Cada lado que vai é um lado que volta. Em toda manhã há alguém que abre a janela, olha o sol nascendo no que já foi e respira fundo para sentir coisa que ainda vai ser. E que mesmo vivendo no meio de tudo, toma café e anda. Faz o que precisa para não ser núcleo estático, mas para se mexer e poder olhar de fora também.

Tem planetas que giram junto da Terra, que gira em volta do Sol. Em outros lugares da galáxia tem outros planetas, que giram em volta de outras estrelas. Em outros lugares do espaço tem outras galáxias (a gente é pequenininho). Em uma pessoa há vários espaços. Desses espaços, há os que são preenchidos por outras pessoas, os que outras pessoas fizeram, os que são feitos pela própria pessoa que os tem, os que só vão sumir quando a pessoa lembrar de algo que já esqueceu, os que só se vão quando a pessoa esquece de algo (se bem que cada lembrança implica em um esquecimento). Tem espaço onde cabe muita coisa diferente. Tem espaços que abrem mais espaços e mais um montão de tipos de espaços - tem até espaço que já acabou e ninguém viu. Os que sobram (os espaços físicos), são todos preenchidos pos coisas formadas por átomos. Nos átomos tem elétrons, que giram em torno de um núcleo. Em tudo que se vê (e em parte do que não se vê) tem bilhões de átomos diferentes, com bilhões de elétrons rodando. Eles são pequenininhos. Nosso planeta será elétron de quê?

Tem gente que vai andar na praia. Que depois de suar bastante, de botar bastante água para fora, senta e põe água para dentro. Mas olha o mar também, o que já é bom.

Tem gente que vai andar no coração dos outros. Que depois de pisar bastante, de fazer a pessoa botar bastante água para fora, deixa alguém andar no próprio coração. E põe um monte de água para fora. Mas olha o amor (amar) também, o que já é bom.

Tem um monte de pessoas andando lá fora. E animais. E a diversificada mistura dos dois. Eles andam o tempo todo. E se um pára, os outros continuam andando, em todas as direções. Ninguém anda sozinho (uma direção é sempre compartilhada).

Tem muitos lugares lá fora. Ermos e habitados, vibrantes e sóbrios, alegres e tristes. Que mudam de tamanho, dependendo de quem vê. Que acolhem. Que fazem rir ou chorar. E chorar.

Tem um céu lá fora. Que (também) muda de cor e tamanho, dependendo de quem vê, como e quando.

Tem gente que morre, sim. E tem gente que nasce. Tem gente que vive e tem gente que existe.

Tem gente que sabe contar histórias. Tem gente que sabe ouvir. Tem gente que sabe olhar. Tem gente que sabe cozinhar. Tem gente que gosta. Tem gente que precisa.

Tem gente que abraça, tem gente que beija. Há os que batem. Há os que sentem muito. Há os que sentem medo. Há os que sentem medo e dizem que não, só para proteger outros.

...

Porque tem gente que ama.
E nós, que subimos em árvores, queremos ver tudo de cima.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Ah, E, Eu e Quem.

Ah, dê a volta na árvore pela esquerda, finja que vai encontrar algo novo e divino do outro lado. E encontre mesmo.

O que se encontra é o que se consegue trazer de dentro para fora. Quem constrói o que existe é quem tem alertas as trocas do um com o meio.

Ah, e eu quero um monte de coisa boa. Vou abrir a janela de manhã cedo para o sol entrar, olhar a luz chegando nova em tudo que acorda, respirar o primeiro ar, acordar só depois de ver o azul e sentir o mundo todo me abraçando. Quem sente o mundo abraçar, sabe abraçar de volta. E inspirar enche-te balão. Quer saber fazer? Eu não. Está tudo feito. Eu quero viver junto.

Ah, e eu quero descer as escadas para sentir que subi. Quem vai me botar onde eu quero sou eu. E ir direto pisar na grama e olhar direto para o Sol. E no momento, naquele momento de fronteira em que a luz entra demais nos olhos, fechá-los e deitar. E, no escuro, várias bolas de fogo aparecerão, porque o que é brilhante marca.

Estender a mão e sentir o mar acima da cabeça.

Quem pára, ajoelha-se e agarra o chão? Nunca? Eu já. Terra, areia, verde, rosa, vermelho, azul, cinza. Entra no que te carrega. Entra no que sustenta. Agarra como se fosse para agradecer. Eu agradeço. E arranho, pego, sinto, beijo, cheiro, me faço um com o solo. Poeira entrando embaixo da unha e dentro das narinas. Importa-se de carregar um pouco da Terra no próprio corpo? Eu não: ela carrega meu corpo com braços de mãe. Levo cada grão seu, se ela pedir.

Ah, eu quero andar na rua descalça. O vidro entra? O vidro entra, mas sai. E deixo de sentir a pedra, o quente, a folha, a lama, o rastro, só por causa do vidro? Ah, não.

Ah, vamos brincar de polir o mundo com os pés descalços? Eu vou para lá, você para cá. O mundo é redondo, ganha o que encontrar os olhos do outro primeiro. E depois que nos encontrarmos a regra muda: teremos de alisar o caminho para quem já cansou de encontrar pedra pontuda e vidro. Dois polindo, deve resolver rápido.

Ah, e quem disse? Acho que eu já disse uma vez também. Queria não ter que dizer. Quem inventa para mim uma linguagem só de sorrisos e olhares? Já inventaram? Então já posso começar a usar.

Ah, e eu quero abrir os olhos para tudo. Tudo é muito. Quero abrir os olhos do tamanho que meu coração abre. Quem já escreveu com tudo, tudo, tudo que tem dentro? Também vibra em outra intensidade e toca o céu com a mão? Tem vontade de chorar enquanto sorri? Ah, é que eu sim.

Um dia (que pode ser agora),

(Ah, é que o dia é do tamanho que você quer. Já tive dias de seis meses. Já tive de duas horas. Já tive de trinta minutos – que cada coisa que escrevo é um dia inteiro.)

Ah, e eu quero um dia que chega sempre. E encontrar um terreno com uma árvore no meio. Aí eu quero sentar encostada na árvore. E então eu quero chorar. Chorar muito, muito. Chorar de tanto sorrir e de tanto ser árvore. E de tanto ser chão. E de tanto ser céu. E de tanto ser flor. Ah, é tão bom ser! Ser o que há.

Alguém já viu uma estrela cadente? Eu já. Quem agradece por existir? Eu agradeço.

Minha linguagem dos sorrisos? Funciona. Que dizer quando se sorri apenas?

Quem acredita que eu estou sorrindo agora? E olhando. Ah, e eu quero dizer tudo que olhos e sorrisos dizem.

Ah, eu só sorrio.


(Depois dê a volta na árvore pela direita e diga o que encontra.)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Só vale pra um.

E então me vem um dizendo que tenta conhecer Deus. Escreve para ele e tudo. Mas Deus não responde.
- Daniel, você tem colhido poucas flores.
E, sempre que possível, volte para o banho de chuva.


(Ouvindo: The Kids Don’t Stand A Chance, Vampire Weekend.)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Mas veio assim.

Olha... Eu realmente gostaria de escrever sobre coisas felizes e cintilantes. E eu vou. Mas enquanto eu escrevo, dou uma olhada nos arquivos antigos e acho uma pilha de letras sangrando. De vez em quando vem e dói, sabe? Aí eu escrevo (quando dói sai coisa bonita). Então dessa vez eu vou postar mais uma vez coisa ferida. Contudo, prometo procês que volto pra postar texto que é belo e leve de ler, ok?
E, novamente, não se preocupem. Não sofro sempre. Quando vem, vem só durante o tempo de sentar e passar pro papel.
Espero que me perdoem a dor, se esta for transferida.





(O título do texto é esse vídeo aqui:)
http://www.youtube.com/watch?v=dvgZkm1xWPE&feature=fvst

Dei de escrever agora, justamente por não escrever há muito. Continuo a escrever por não sentir há muito. Ou sinto coisas demais há muito.

Eu sinto muito.

Eu sinto por mim. Eu sinto por ainda me perceber caída quando já acreditava estar tão de pé.
Eu era tão grande e forte. O que houve? Em que canto da rua eu me joguei e por que é tão longe do canto onde me enrosco agora, sem cobertor e sem chão?

“O que você está sentindo neste exato momento?”... A resposta vem fácil, que outra seria? Mas por que, meu Deus, por que dói? QUAL A RAZÃO DE AINDA DOER, ONDE AINDA DÓI? Que ferida tão profunda foi essa que parece aberta pra sempre, por motivo algum? Minha vontade é gritar de dor. E agora é diferente, algo que agora é e não era antes: Não acho culpado. Não posso apontar ninguém em louca satisfação de achar uma desculpa e forçar minha mente a puni-lo com o desagrado e meu fingido ódio. Tudo isso dói de graça e por ninguém.

Uma faísca. Foi o suficiente pra me atear fogo e perder a pele que me segurava inteira no nada de mim.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ah, olha:

Tô no Blank Poppy.
Casa nova.

Caracol.




O lado de dentro – redemoinho constante. O lado de fora é só onda rasa.

Aponte-me o dedo longo para falar de bem e de amor puro. Sua própria vida não me importa, faça o que lhe parecer mais correto. Pare, então, de falar da minha como se a certeza viesse de sua boca sem toque. Que procura em mim? Que acha que tenho de tão exótico? Que diferença tenho? Vá olhar-se.

Ao contrário, não tenho que falar o que penso, portanto não o faço. Percebe? Nota o tanto que fica em ebulição e não transborda? Nota a paz que tem? Entenda que não é por mim, mas por você. Respeito o rosto angelical que nada sabe; sua inocência é o que lhe salva. (Porém aqui não me freio. Escrita é minha terra, não me impeço por ninguém). Compreendo que do solo em que se plante não nasça nada diferente da semente. Mas você ainda não é flor. Ainda há adubo que lhe salve. Mas você não se esforça! Você não quer. Recusa o adubo como se fosse veneno e cresce sem flor de abrir. Vai viver sempre botão? Acha feio a rosa desabrochar?

Qual o pudor da rosa? A rosa que esconde a cor vive como mato (e sem a simplicidade bela de ser mato, pois nasceu flor). Como vai ser feliz, então?
(Faço uso do espinho, com seiva sangrando).

Olhe para mim e fale alto, olhos nos olhos. Vira o rosto para dizer o que pensa? Então tem vergonha do que acha? Ou não acha nada? As palavras que sabe são as que descobriu ou as que lhe ensinaram que eram corretas? Repete, repete, repete, repete, repete. Como sabe que o que escolheu para seguir é certo? Parece que não tem nada de seu. Ah, minto. Tem. E camufla com dos outros. O que é seu é lindo! E todos podem ver. Menos você. Acha que enxerga tão bem o dos outros e o próprio se recusa a ver?

Diz que vai à Igreja. E de que adianta, se não crê em nada? Carolice... Evidente que é. Sabe o que é?

Ah, eu posso. Posso ser tão infeliz e miserável quanto você. Mas sei, sei de verdade, que me esforço para não ser mais. (Já te vi feliz?)

E não me peça.

Pare de me avisar que estou errado, porque meu objetivo não é estar certo.