domingo, 13 de setembro de 2009

Respiro.

Olhou para os dois lados pra ter certeza de que não vinha nenhum carro e atravessou.
Não que no outro lado da rua estivesse o que procurava. Atravessou só para mudar mesmo. Tentava fazer da mesmice de cada dia uma coisa diferente. Enquanto andava, prestava atenção em cada cheiro, cada som, cada cor. Concentrava-se tanto em perceber tudo que levou um susto quando sentiu o celular vibrar no bolso da camisa (tão grande atenção no que estava longe de si fazia esquecer tudo que estava perto). A voz do outro lado era conhecida:
- Onde você está?
- Na rua, mãe.
- Fazendo o quê?
- Só na rua, mãe. Tive vontade de ficar andando, me senti apertada dentro de casa.
Parou em uma floricultura. Olhava as flores distraidamente enquanto a mãe despejava o discurso conhecido:
- Mas você só me avisou que ia sair, Ana Elisa! “Vou dar uma volta”. Já tem uma hora que você não dá notícia! É importante avisar onde está, sabe Deus o que pode acontecer! Como você vai ficar se ninguém souber onde você está?
Se eu quisesse que alguém soubesse onde estou – pensou - não teria saído de casa. Mas respondeu dócil:
- Tem razão, desculpa. Não vou demorar, já estou voltando.
A mãe disse mais alguns mols de conselhos e desligou. Não era culpa dela, ela não estava errada. Mãe é assim mesmo. Mas ah como seria bom poder esquecer-se de tudo sem que ninguém se lembrasse de você.
Escolheu alguns girassóis e pagou no caixa. Com a mente longe, reparou que todas as flores estavam viradas na direção da forte luz do sol. Deu um suspiro e voltou andando para casa.

5 comentários:

  1. Dificil, muito dificil, alguem nao se lembrar de voce, principalmente eu =D

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  2. bem, um dia, um amigo meu, distraído andando pela rua observando as mesmas coisas de sempre tenta mudar o que parecia imutável e eleva seus pensamentos às alturas. Hipnotizado por suas idéias hipnotizantes e viajando distante de si, repentinamente é surpreendido pelo barulho aterrorizante de um freiar de automóvel que o faz instantaneamente retornar a seu corpo real, sem secuelas, e a pensar: hihihihihi
    que viagem!
    ;p

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  3. "A mãe disse mais alguns mols de conselhos e desligou."

    Mols cara, mols! Só porque eu estava estudando estequimetria! \o/

    Venho acompanhando os seus textos, desde ontem, à noite. Muito interessantes e bem organizados, ao meu ver. (um ver de aluno do 3º ano do médio. Grandes coisas...)
    Continue comprando flores, algumas delas não tem preço.

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  4. Respondendo: Quem diz que a Verdade, ou a verdade, também não desejam?

    Quanto ao Eu, depende do Eu de cada um.
    No meu caso, a vontade de ser verdadeiro.

    Ah, e eu pratiquei um misto de copycat e plágio de um post seu. Necessidade incontrolável de escrever algo parecido.

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  5. Alteração no post executada, de acordo com o seu pedido.
    Obrigado pelo texto, ele sintetizou muitos dos muitos 'sentimentos-não-sentidos' que eu vinha tentando sentir.

    E, quanto ao meu modo de responder, realmente não respondi: tentei deixar todo o trabalho de responder por você mesma. A resposta era muito óbvia e, venho respondendo demais ultimamente =\ Desculpe pela preguiça; pelo cansaço.

    :***

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