Ele atravessou a rua para comprar gerânios que não achava mais em lugar nenhum. Da falta de gerânios nasceu em seu peito um vazio irreparável, coberto mal e porcamente com girassóis – era o que tinha. Mas ao ver a carrocinha cuidadosamente maltratada pelo tempo, sentiu crescer em si a esperança de ser completo novamente. Um pedaço de si só poderia retornar quando tivesse as flores. Só quando tivesse gerânios.
Correu. Mas no caminhar comedido de quem corre por dentro. O palpitar intenso não ultrapassava a barreira da civilidade aprendida à perfeição e exercitada em muitos anos de cinza. Conseguia manter o colorido interior graças às flores. Graças aos gerânios.
Parou. Por um tempo manteve os olhos fechados. Respirou. O aroma incomparável de gerânios encheu cada parte sua. E o buraco começava a ser preenchido novamente. Escolheu uma braçada dos gerânios mais sorridentes.
Sorriu. Voltou para casa com a alma coberta de pétalas. Naquela noite faria biscoitos. Naquela noite teria gerânios e nem mais um coração perdido.
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QUE LINDO!!!
ResponderExcluirAmei!
"cuidadosamente maltratada pelo tempo" e "mas no caminhar comedidonde quem corre por dentro" ficaram bons demais!
Ai... Cê tá escrevendo bem, garotinha!