quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Muito, muito, muito.

Era uma vez um menino muito, muito, muito alto. Ele era tão alto que as nuvens ficavam em volta da cabeça dele e quando ele falava fazia vento. Vento não, brisa. Porque era muita palavra doce e leve.

O menino tinha muitas, muitas, muitas dúvidas (acontece que era um menino muito, muito, muito inteligente, e meninos assim têm gosto em perguntar e saber mais). Tendo muitas dúvidas, procurava muitas, muitas, muitas respostas. Encontrava não tantas. Mas a procura já valia boa parte da energia gasta em questionar. Questionar alimenta, sabe? Dá trabalho, mas fortalece. E procurar a resposta dá vigor.

Um dia ele botou o pé para fora de casa e viu um céu muito, muito, muito cor de rosa. Olhou para os dois lados da rua muito, muito, muito vazia e entendeu pouco. O céu sempre fora tão, tão, tão azul, por que agora tão cor de rosa assim? Se tivesse alguém junto dele, olhando como ele para onde ele olhava, poderia perguntar se via rosa também. Mas não havia ninguém acordado ainda. O menino acordava muito, muito, muito cedo todo dia, para poder correr até a praia e ver o sol nascer. Mas nesse dia não só o sol não tinha nascido como o mundo tinha acordado cor de rosa. E o menino olhou para as nuvens em volta de sua cabeça e não via nenhuma que não fosse colossalmente, fabulosamente, normalmente branca. Ora, as nuvens não haviam mudado. Nem nada lá embaixo. A grama era verde, o asfalto era preto (ou cinza), os pombos eram cor de pombo, a areia (lá no fundo) era bege ou branca, os prédios tinham as cores que tinham um dia atrás. Só o céu que tinha resolvido trocar de roupa. Mas não se incomodou. Gostava de rosa. Não parou de se perguntar o por quê, mas não pensou nem por um segundo que era errado. Que seja rosa, azul, amarelo ou verde: quero o céu como o céu se quiser.

E, sim, o menino tinha muito, muito, muito amor. Um amor muito, muito, muito grande. Tão grande que era difícil conseguir camisas para ele; não por sua altura, mas por causa de seu coração, tão largo e tão cheio. Por isso, o susto do céu rosa durou um pouco menos. O amor era tão verdadeiro, tão puro, tão intenso, que não seria exatamente uma surpresa ele um dia descobrir que uma parte do amor havia fugido de dentro dele e ido parar do lado de fora. Era de fato muito, muito, muito grande. Pensava ele que provavelmente grande demais para caber dentro de alguém, mesmo em um alguém tão alto como aquele menino. Logo, se o céu estava rosa para ele (até onde se sabia), era porque estava colorido com amor, nada mais justo e claro.

Ele é muito, muito, muito, bonito. E aceita o céu da cor que for, nunca parando de amar com força e gratidão tudo no mundo que reflete o amor de bem. Andou até a praia, sentou numa pedra muito, muito, muito grande e muito, muito, muito boa, deu um suspiro muito, muito, muito profundo e viu o sol nascer.

O sol nasceu violeta.

2 comentários:

  1. muito, muito, muito violeta.
    =]

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  2. Pra registrar: foi postado graças ao Matheus de Carvalho, d'A Brecha. Obrigada por me acudir num momento de necessidade, uhauha =)

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