segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

E nós subimos em árvores.







(se possível, leia ouvindo Open Your Eyes, do Snow Patrol.)


O mundo corre para todos os lados. Cada lado que vai é um lado que volta. Em toda manhã há alguém que abre a janela, olha o sol nascendo no que já foi e respira fundo para sentir coisa que ainda vai ser. E que mesmo vivendo no meio de tudo, toma café e anda. Faz o que precisa para não ser núcleo estático, mas para se mexer e poder olhar de fora também.

Tem planetas que giram junto da Terra, que gira em volta do Sol. Em outros lugares da galáxia tem outros planetas, que giram em volta de outras estrelas. Em outros lugares do espaço tem outras galáxias (a gente é pequenininho). Em uma pessoa há vários espaços. Desses espaços, há os que são preenchidos por outras pessoas, os que outras pessoas fizeram, os que são feitos pela própria pessoa que os tem, os que só vão sumir quando a pessoa lembrar de algo que já esqueceu, os que só se vão quando a pessoa esquece de algo (se bem que cada lembrança implica em um esquecimento). Tem espaço onde cabe muita coisa diferente. Tem espaços que abrem mais espaços e mais um montão de tipos de espaços - tem até espaço que já acabou e ninguém viu. Os que sobram (os espaços físicos), são todos preenchidos pos coisas formadas por átomos. Nos átomos tem elétrons, que giram em torno de um núcleo. Em tudo que se vê (e em parte do que não se vê) tem bilhões de átomos diferentes, com bilhões de elétrons rodando. Eles são pequenininhos. Nosso planeta será elétron de quê?

Tem gente que vai andar na praia. Que depois de suar bastante, de botar bastante água para fora, senta e põe água para dentro. Mas olha o mar também, o que já é bom.

Tem gente que vai andar no coração dos outros. Que depois de pisar bastante, de fazer a pessoa botar bastante água para fora, deixa alguém andar no próprio coração. E põe um monte de água para fora. Mas olha o amor (amar) também, o que já é bom.

Tem um monte de pessoas andando lá fora. E animais. E a diversificada mistura dos dois. Eles andam o tempo todo. E se um pára, os outros continuam andando, em todas as direções. Ninguém anda sozinho (uma direção é sempre compartilhada).

Tem muitos lugares lá fora. Ermos e habitados, vibrantes e sóbrios, alegres e tristes. Que mudam de tamanho, dependendo de quem vê. Que acolhem. Que fazem rir ou chorar. E chorar.

Tem um céu lá fora. Que (também) muda de cor e tamanho, dependendo de quem vê, como e quando.

Tem gente que morre, sim. E tem gente que nasce. Tem gente que vive e tem gente que existe.

Tem gente que sabe contar histórias. Tem gente que sabe ouvir. Tem gente que sabe olhar. Tem gente que sabe cozinhar. Tem gente que gosta. Tem gente que precisa.

Tem gente que abraça, tem gente que beija. Há os que batem. Há os que sentem muito. Há os que sentem medo. Há os que sentem medo e dizem que não, só para proteger outros.

...

Porque tem gente que ama.
E nós, que subimos em árvores, queremos ver tudo de cima.

4 comentários:

  1. Lindo, lindo, não entendi quase nada, mas é lindo \o/

    Como eu já disse antes, você com seus textos são a minha madeleine proustiana, dessa vez me lembrei de um trecho de "O Velho e o mar" do Hemingway:

    "O velho pensava sempre no mar como sendo a mar, que é como lhe chamam em espanhol quando verdadeiramente lhe querem. Às vezes aqueles que o amam lhe dão nomes feios mas sempre como se se tratasse de uma mulher. Alguns dos pescadores mais novos (...) quando falam do mar dizem o mar, que é masculino. Falam do mar como de um adversário, de um sítio ou mesmo de um inimigo. Mas o velho pescador pensa sempre no mar no feminino e como se fosse uma coisa que desse ou não desse grandes favores, e se o mar fizesse coisas selvagens e cruéis era só porque não podia evitá-lo."

    Acho que tem alguma coisa a ver, não? ;)

    PS: Senti um certo plágio da minha técnica de "leia enquanto ouça".

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  2. Essa coisa do que a gente é no/para o Espaço, do espaço que a gente ocupa (como somos tão pequenos!)e do Universo que,na verdade, somos (como somos tão grandes?) também sempre me encantou e intrigou.
    Achei lindo o modo como você falou disso. Parece que você estava olhando de uma janela cujo vidro era um prisma... Separando em cores as gentes, os sentimentos, tudo. Tudo?
    As cores mudando, dependendo de quem vê.
    É... tem gente que vive e tem gente que existe.

    Um beijo.

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