terça-feira, 9 de outubro de 2012

Na longa avenida da vida não há limite de velocidade, só um paredão no final.

Mas agora me deu uma saudade, uma saudade enorme de mim. Como se eu tivesse me visto pela janela no carro e não pudesse parar para cumprimentar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Nascer Do Caule É O Nascer Do Homem.

Ele atravessou a rua para comprar gerânios que não achava mais em lugar nenhum. Da falta de gerânios nasceu em seu peito um vazio irreparável, coberto mal e porcamente com girassóis – era o que tinha. Mas ao ver a carrocinha cuidadosamente maltratada pelo tempo, sentiu crescer em si a esperança de ser completo novamente. Um pedaço de si só poderia retornar quando tivesse as flores. Só quando tivesse gerânios.
Correu. Mas no caminhar comedido de quem corre por dentro. O palpitar intenso não ultrapassava a barreira da civilidade aprendida à perfeição e exercitada em muitos anos de cinza. Conseguia manter o colorido interior graças às flores. Graças aos gerânios.
Parou. Por um tempo manteve os olhos fechados. Respirou. O aroma incomparável de gerânios encheu cada parte sua. E o buraco começava a ser preenchido novamente. Escolheu uma braçada dos gerânios mais sorridentes.
Sorriu. Voltou para casa com a alma coberta de pétalas. Naquela noite faria biscoitos. Naquela noite teria gerânios e nem mais um coração perdido.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Só.

Tudo eu digo que passa sozinho porque tudo eu não sei como fazer passar.

Eu Sei

Faz tempo que eu não venho aqui.
Geralmente eu escrevo quando eu não me entendo mais. Mas é justamente nesses momentos que parece que é quando eu não escrevo que eu não me entendo.
Às vezes eu tenho que escrever pra me lembrar de como é a minha voz.
Eu me esqueço do que eu faço aqui. Muitas vezes eu me esqueço de que eu posso escrever. Muitas vezes eu não acredito que eu possa escrever. Às vezes eu acho que eu perdi isso em algum lugar, mas eu não me lembro aonde.
E é sempre nessa hora em que eu volto aqui que eu peço por mais uma chance. Que eu peço pra conseguir de novo. Que eu peço pra voltar. Porque eu acho que voltar vai me devolver todas as respostas que eu já não sabia.
Eu não conheço nada aqui dentro. Mas eu finjo que sim. E quando eu escrevo parece que eu estou mesmo perto de conhecer. Ainda assim, aqui eu me prendo. Muito menos do que eu me prendo do lado de fora.
O que me faz pensar no tanto que eu me prendo o tempo todo.
Parece que eu que me firo. Eu que fico me esfaqueando por dentro. Eu aguento quieta na maior parte do tempo, mas tem uma hora em que eu preciso gritar.
Não é que eu não saiba por que que eu choro. Eu sei bem. Eu só não posso falar em voz alta. Nem pra mim.
Eu choro porque eu não tenho certeza. E não ter certeza me deixa triste pelo que eu vou ter que deixar pra trás, mesmo que eu não saiba ainda o que é.
Eu quero sair. Não de casa, não pra rua. Eu quero sair de onde eu estou presa pra onde eu sou livre. Isso não tem a ver com mais ninguém além de mim. Não tem a ver com quem eu me relaciono, com quem eu encontro. Não tem a ver com quem eu converso, com quem diz minhas regras. Tem a ver só comigo.
(Eu só escrevo com música porque eu preciso de barulho do lado de fora pra fazer silêncio do lado de dentro.)
Eu devia pedir desculpas pra tanta gente. Eu já fiz tanta coisa burra. Não pela decisão em si, mas pelo jeito que foi feito.
Eu perdi tanto o propósito de mostrar o que eu escrevo. Eu não sei mais pra quê mostrar. Pra quem mostrar.
Eu preciso sair e respirar.

sábado, 29 de outubro de 2011

Fome.

Eu tenho que usar isso tudo dentro de mim pra produzir. Eu tenho que usar isso tudo pra escrever. Mas não pode ser a toda hora. Ou melhor, não pode ser a qualquer hora. Porque da mesma forma que a comida tem mais gosto na hora da fome, e a água é melhor na hora da sede, a arte é boa quando faz falta. O texto é bom quando escrevê-lo sacia e dá a sensação de fazer brotar tudo que não estava lá antes.
Eu sinto falta de escrever. Mas essa falta não me levava a lugar nenhum. Nem me dava vontade de pegar papel e caneta e sentar. Eu sinto falta de sentir falta. Eu sinto falta de ter vontade. Eu sinto faltar de sentir que eu posso escrever e que faço isso bem. Sabe quando a gente esquece? Não sei se o que eu esqueci foi o savoir faire (papai me disse que isso ia acontecer), se foi a paixão, se foi a vontade, se foi o jeito, se foi o costume. Espero não ter perdido o ritmo. Espero não ter me perdido. O que é só uma vontade louca de negação, porque eu sei muito bem que o que se perdeu fui eu. Só não sei quando, só não me lembro onde, só não sei por quê. Parece que de tempos em tempos eu me perco. Mas antes essa perda era logo registrada aqui. Perda de valores, perda de razão, perda de fé. Tudo isso ia, era suportável. Porque eu escrevia. Porque eu tinha por onde me olhar. Desde que eu parei de escrever, não tive mais por onde olhar. Perdi o olho mágico caleidoscopiante que me ajudava a entender. Se não entender, a achar mais bonito o não entendimento. É que as coisas confundem a gente. O que confunde costuma ser bonito, se você olha só pra confusão e esquece o que está confuso. Se o confuso não agonizar para se entender, será muito mais feliz. É como tentar desembolar aqueles rolos de linha completamente embaralhados. Você começa com calma, depois vai perdendo a paciência. Quando vê, já está puxando linhas de tudo que é lado, usando os dentes, tentando rasgar. E não consegue. Aí você deixa aquilo num canto, desiste. Um pouco mais tarde você vai olhar e perceber que era só puxar um fiozinho bem devagar, e os nós se desfazem. Gente confusa é assim. A gente fica nervoso com o rolo todo na cabeça da gente. Quer puxar por todos os lados pra ver se resolve, pra ver se se solta desse monte de sei lá o quê que deixa a gente aflito e preso em um milhão de fitas. Aí - depois de bastante tempo - a gente resolve parar de se debater e tentar olhar bem pro trançado que fez em volta (e às vezes dentro). E olha bem, porque é até bonito. O que é bem humano costuma ser bonito. O que é bem humano e não visa a dor de ninguém. Nesse caso, a dor mesmo é nossa, mas veio pela nossa falta de tato em cuidar da nossa vida, não porque a gente quis. E aí é bonito. E a gente olha. E pensa. Ou nem pensa e só sente. Sentir é como pensar, só que melhor. Porque para sentir a gente não precisa de palavra. A palavra é boa. É boa demais. Mas a palavra não alcança a exatidão automática do sentir. Pode provocar, pode chegar perto. Mas não sabe ser tão honesta, tão limpa e tão simples quanto o sentir. Aí a gente olha e sente. Pode pensar também. E vê que é bonito estar enrolado, porque é bonito ser humano, porque é bonito ser. E bem quando a gente já está gostando de ser meio enrolado, o fio solta. Sozinho. Vai até a sua mão a cordinha que, puxada, resolve tudo. E então você pode puxar com calma e se soltar. Mas guarda a cordinha, porque é bonito.
Eu vim falando de tudo isso sem saber que era disso que eu queria falar. Só sei que eu estava tomando café e descobri que estava inquieta em mim. E senti vontade de escrever. Mas queria continuar tomando café. Só que escrever é que nem ter fome. Quando vem, vem também a urgência. Então eu saí correndo pra cá. Mas trouxe meu pão.

domingo, 16 de outubro de 2011

Quando.

Chega uma hora em que a dor deixa de ser bonita. E então mergulhar em si é só encarar o nada. E bater com força no peito esperando que além da tosse, saia o caldo escuro de lama e piche que forma o vão dentro da gente.
Chega uma hora em que a dor deixa de ser bonita e se rasgar por dentro deixa de adiantar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Atenção.

O Cesto vai voltar.